Profissionais de saúde na linha de frente têm desistido de empregos em RO
A guerra contra a covid-19 e a falta de estrutura faz com que muitos tenham pesadelos devido a pacientes que vão a óbito

Publicado 22/03/2021
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“Sob pressão”. Essa palavra define o estado dos profissionais de medicina que estão na linha de frente na luta contra a Covid-19, nesse momento em que o Brasil está alcançando a triste marca de 300 mil mortos. Isso desde março do ano passado quando os primeiros óbitos ocorreram.
Em Rondônia, os números de mortos vítimas da pandemia continuam assombrando a população. No nosso estado, desde o ano passado 3642 vidas foram perdidas para a covid-19. A capital, Porto Velho, está registrando o maior número de mortos devido às complicações da doença, totalizando 1638 óbitos, até o último sábado (21). Os dados são da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau).
Por trás dessas estatísticas, além das famílias arrasadas pelas perdas dos entes queridos, estão os profissionais de saúde que também sofrem pela grande quantidade de pacientes que vão a óbitos todos os dias. A sensação de impotência é uma constante no trabalho de quem é da área de medicina.

Paralelo a tudo isso, está o aumento de casos da doença que, segundo especialistas, devido às novas variantes, tornou o Brasil o centro da epidemia em nosso planeta. A falta de vacinas para toda a população e o agravamento da situação estão fazendo com que muitos países se recusem a aceitar brasileiros, fechando as suas fronteiras para nossos viajantes.
Os trabalhadores da saúde em Rondônia além da luta contra o inimigo invisível enfrentam o constante risco de contaminação em cada plantão. De acordo com os dados do e-SUS, os técnicos e auxiliares de enfermagem são os mais expostos ao vírus em Rondônia.

Ao todo, até hoje, 2.998 desses trabalhadores já foram infectados em nosso estado, sendo que 21 deles não resistiram à doença. A expectativa é de que até o meio do ano todos os profissionais de Saúde de Rondônia já estejam vacinados.

Geralmente os técnicos e auxiliares são os primeiros profissionais a terem contato com os pacientes que dão entrada nas unidades de Saúde, o que os coloca em exposição maior ao vírus.
Em seguida, os farmacêuticos seguem logo atrás nesse triste ranking com 1.728 infectaram e 11 mortes por complicações da COVID-19.

Entre os médicos que atuam na linha de frente do COVID-19 em Rondônia, 777 foram contaminados pelo coronavírus e quinze deles vieram a óbito. Essa triste realidade, tem abalado o emocional desses profissionais.
 
 Impacto psicológico

 
A presidente do Sindicato dos Médicos de Rondônia (Simero), médica Flávia Lenzi, contou que os eles estão trabalhando sob uma enorme pressão psicológica e que, além disso, eles enfrentam a falta de estrutura.
 
“Hoje é uma profissão de altíssimo risco. O impacto psicológico é enorme por dois motivos principalmente. Um é o medo de contrair a doença enquanto está trabalhando. Hoje, os médicos saem de casa sabendo que vão lidar com uma coisa que pode ser muito séria para a vida deles. O outro motivo é a insegurança para trabalhar, pois, muitas vezes, tem paciente que ele não pode fazer nada, pois, não tem materiais, equipamentos e insumos para resolver o problema. Muitas vezes, precisa intubar e, por falta de material, acaba morrendo. Muita gente chega em casa e tem pesadelos por causa disso, porque o paciente veio a óbito”, relatou.
A presidente do Simero, médica Flávia Lenzi, disse que os médicos muitas vezes não tem a estrutura para resolver os problemas dos pacientes
 
Flávia contou que essa pressão em cima dos profissionais tem feito com que muitos larguem empregos, pois não conseguem lidar com estresse para quem trabalha na linha de frente do combate à covid-19.
 
“Não tenho notícias de quem largou a profissão, mas empregos, sim. Disse isso não é pra mim e eu não vou mais fazer isso. O recado que deixo para a população é para usar máscaras, álcool em gel e, principalmente, distanciamento. No primeiro sinal da doença, procurar atendimento médico, no sentido de não piorar”, finalizou.
 
Uma outra profissional que está em contato constante com pacientes que contraíram a covid-19, é a enfermeira Ana Paulo Matias, que há dez anos atua no Programa de Saúde da Família (PSF), da Secretaria Municipal de Saúde, em Porto Velho.
 
Ela conta que a pandemia dificultou o trabalho que desenvolvia junto aos moradores da capital, deixando a população mais exposta à outras doenças. Segundo a enfermeira, as pessoas estão evitando a covid-19 e se esquecendo de tratar de outros problemas de saúde.
 
Jovens
 
“A diferença do meu trabalho de antes para hoje é que, antes da pandemia, podíamos ter mais contato com o público, orientar melhor e atender melhor. Hoje, com a pandemia e o distanciamento, muitos idosos e adultos, com medo do covid-19, não estão tratando de suas doenças crônicas. Isolados, só tem se agravado o quadro dessas doenças. Como é o caso do diabetes. Antes, a equipe fazia visitas e consultas nas casas dos que estão acamados. Hoje não dá mais”, declarou.
 
Ana Paula tem percebido que os jovens não estão levando a sério a tragédia que tem sido essa pandemia e colocando em risco as pessoas de saúde mais vulnerável. Além disso, segundo ela, o vírus está mais agressivo.
 
“Nessa pandemia o que tem me chamado a atenção é a falta de empatia dos jovens. Vejo muitos deles nas ruas sem máscara. Levam o vírus para casa e quem paga a conta são os mais velhos. Essa segunda onda com o vírus em mutação veio pior do que no início da pandemia, pois, está infectando pessoas que já tiveram a doença e deixando-as mais graves. Quem puder fique em casa, quem tiver que sair para trabalhar use máscara, álcool em gel e distanciamento! ”, finalizou.

Fonte: Rondoniaovivo